HISTÓRIA DO RÁDIO - Fábio Pirajá - O Radionauta

A História do Rádio

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A História da Radio Nacional


Emissora de Rádio criada no Rio de Janeiro em 1936 a partir da compra da Rádio Philips, por 50 contos de réis. Seu primeiro prefixo, "Luar do sertão", de João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense, era tocado em vibrafone por Luciano Perrone e em seguida um locutor anunciava o prefixo da emissora: PRE-8. Nesse ano mesmo, começou a apresentar pequenas cenas de rádio-teatro intercalados com números musicais.Foi nos anos 1940 e 1950 a principal emissora do país e verdadeiro símbolo da chamada "Era do Rádio". Em 1937, foi inaugurado o "Teatro em Casa" para a irradiação de peças completas, semanalmente. Sua programação ao vivo passou depois a ser retransmitida para todo o país, o que a tornou uma pioneira na integração cultural do país.

Seus programas de auditório, radionovelas, programas humorísticos e musicais marcaram a História do Rádio no Brasil. Foi líder de audiência praticamente desde a fundação até que o aparecimento da TV ditasse novos rumos para a comunicação no país.Seus programas eram transmitidos diretamente dos muitos estúdios específicos, inclusive do auditório da Rádio, todos localizados nos três últimos andares do edifício "A Noite", Praça Mauá, 7, Rio de Janeiro.
Se seus programas de humor, suas radionovelas, seus programas noticiários e os esportivos viraram modelo para muitas outras Rádios do país, foi fundamental também para o desenvolvimento da música popular brasileira. Os primeiro nomes de cantores a formar seu casting foram Sonia Carvalho, Elisinha Coelho, Silvinha Melo, Orlando Silva, Nuno Roland, Aracy de Almeida e Marília Batista.

Radionovelas


Segundo depoimento do radialista e compositor Haroldo Barbosa ao pesquisador Luis Carlos Saroldi, "Nos primeiros anos, a Rádio Nacional apresentava uma estrutura muito simples: uma seção artística e uma seção administrativa, nada mais que isso. A emissora contava com menos de 30 pessoas para cantar, executar músicas, contabilizar e realizar outras tarefas menores".

As rádionovelas da emissora marcaram época a partir da primeira transmitida em 1941, "Em busca da felicidade", que durou três anos, até "O direito de nascer", que chegou a mudar hábitos das pessoas que tinham compromisso marcado com as transmissões dessa radionovela, posteriormente adaptada para a televisão. Até meados da década de 1950, o Rádio-Teatro Nacional irradiou 861 novelas, as mais ouvidas do rádio brasileiro, segundo as mais seguras pesquisas de audiência. Pode-se observar que a música popular brasileira foi uma antes e outra depois da Nacional, que se transformou numa verdadeira criadora de ídolos através da realização de concursos como "A Rainha do Rádio", que consagrou diversas cantoras, como Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira e Ângela Maria.

Um dos cantores que ficou marcado como símbolo dessa era foi Cauby Peixoto, que enchia o auditória da Rádio em suas apresentações. Em 1936, Linda Batista foi eleita a primeira "Rainha do Rádio", permanecendo no posto por doze anos. Em 1938, Almirante estreou o primeiro programa de montagem, ou montado, que foi "Curiosidades musicais", sob o patrocínio dos produtos Eucalol. O mesmo artista lançou no mesmo ano o primeiro programa de brincadeiras de auditório, o "Caixa de perguntas". Outro programa de destaque na emissora surgido no mesmo período foi "Instantâneos sonoros brasileiros", produzido por José Mauro com direção musical de Radamés Gnattali, regente da orquestra.

Incorporação


Em 1939, Lamartine Babo passou a apresentar o programa "Vida pitoresca e musical dos compositores". Em 1940, a Rádio Nacional passou a fazer parte do Patrimônio Nacional, a partir de decreto assinado pelo presidente Getúlio Vargas, sendo então, dirigida por Gilberto de Andrade, que tratou de dar uma nova cara à programação da Rádio, no que muito foi auxiliado pelo radialista José Mauro, irmão do cineasta Humberto Mauro.
No ano seguinte, passou a ser apresentado o noticioso "Reporter Esso", marco do jornalismo radiofônico e que passaria a ter como apresentador três anos depois o locutor Heron Domingues. O prefixo do "Reporter Esso" foi escrito pelo maestro Carioca e executado por Luciano Perrone na bateria, Carioca no trombone e Francisco Sergio e Marino Pissiani nos pistons.

A Rádio Nacional foi a primeira emissora do Brasil a organizar uma redação própria para noticiários, com a rotina de um grande jornal diário impresso. A emissora da Praça Mauá possuía construiu uma divisão de rádio-jornalismo com mais de uma dezena de redatores, secretários de redação, rádio- repórteres, informantes e outros auxiliares, além de uma sessão de divulgação e uma sessão de esportes completa, e um boletim de notícias em idioma estrangeiro, que cobria todo o continente. Em 18 de abril de 1942, foram inaugurados os novos estúdios da Rádio Nacional, no vigésimo primeiro andar do edifício "A Noite". Com 486 lugares, as novas instalações traziam inovações como o piso flutuante sobre molas especiais do palco sinfônico.

Ainda em 1942, Almirante estreou o programa "A história do Rio pela música". Nesse ano iniciou-se uma publicação semanal com a programação da emissora e cuja capa na maioria das vezes estampava a foto de cantores ou cantoras ligados à emissora. Também nesse ano, as ondas curtas da PRE-8 passaram a ser ouvidas em vários países.
Em 1943, a programação da emissora tomou impulso com a estréia do programa "Um milhão de melodias", patrocinado pelo refrigerante Coca-Cola, que estava sendo lançado no Brasil. Para esse programa foi criada a Orquestra Brasileira, com direção de Radamés Gnatalli. O repertório do programa apresentava duas músicas brasileiras atuais, duas antigas e três músicas estrangeiras de grande sucesso.

A Orquestra Brasileira de Radamés Gnatalli era formada pela mescla de grandes músicos como Luciano Perrone na bateria, vibrafone e tímpano, Chiquinho no Acordeão, Vidal no contrabaixo, Garoto e Bola Sete nos violões, José Meneses no cavaquinho, além dos músicos da velha guarda do samba carioca como João da Baiana no pandeiro, Bide no ganzá e Heitor dos Prazeres tocando prato e faca e caixeta.Também para atuar no programa foram criados os Trios Melodia e As Três Marias. Nesse ano, estreou com grande sucesso o programa "Trem da alegria", apresentado pelo Trio de Osso, formado por Heber de Bóscoli, Yara Sales e Lamartine Babo. Entre as muitas inovações surgidas na Rádio Nacional e que influiram no próprio desenvolvimento da música popular brasileira estão os arranjos para pequenos conjuntos, trios e quartetos de Radamés Gnattali e os acompanhamentos rítmicos do baterista Luciano Perrone que causaram uma pequena revolução no samba orquestrado feito até então.

Luiz Gonzaga


Foi Luciano Perrone quem sugeriu a Radamés Gnatalli a utilização dos metais, até então com funções exclusivamente melódicas, como mais um elemento de função rítmica na interpretação dos sambas gravados.
Na década de 1940, pelo menos três dos maiores cantores brasileiros eram contratados da Rádio Nacional: Francisco Alves, Sílvio Caldas e Orlando Silva. Ainda em 1943, estreou na Rádio Nacional o sanfoneiro Luiz Gonzaga que inspirado no sanfoneiro Pedro Raimundo que se vestia com trajes típicos do sul, resolveu vestir-se com trajes típicos do nordeste e dessa forma passou a divulgar a música e a cultura nordestinas.

Em 1946, um dos maiores sucessos musicais foi o samba-canção "Fracasso", de Mário Lago gravado por Francisco Alves e tema extraído da radionovela com o mesmo título. Nesse ano, a Rádio Nacional inovou na forma de transmitir partidas de futebol, adotando o chamado "sistema duplo", que dividia o campo de jogo em dois setores, cada qual com um locutor acompanhando de preferência o ataque de cada um dos times. O "sistema duplo" foi inspirado no então moderno método de arbitragem em trio, com os bandeirinhas colocados em ângulos opostos.

A década de 1950 ficou marcada pela acirrada competição pelo título de "Rainha do Rádio" que envolveu em disputas memoráveis cantoras como Emilinha Borba, Marlene e Ângela Maria. Nessa década, os programas de auditório da emissora tornaram-se tão concorridos que era cobrado ingresso até para assistir os programas em pé.
Outra disputa musical que marcou época no Rio de Janeiro, tendo a Rádio Nacional como centro, era a da divulgação de marchas e sambas carnavalescos, dos quais um dos muitos destaques foi o cantor e compositor Blecaute, sempre presente aos programas de auditório da Rádio.

Rainhas do Radio


Nesse período fizeram parte o "cast" da emissora artistas que marcaram a música popular brasileira como: Orlando Silva, Ataulfo Alves, Carlos Galhardo, Linda Batista, Luiz Gonzaga, Carmen Costa, Nelson Gonçalves, Nuno Roland, Paulo Tapajós, Albertinho Fortuna, Carmélia Alves, Luiz Vieira, Zezé Gonzaga, Gilberto Milfont, Heleninha Costa, Ademilde Fonseca, Bidu Reis, Nora Ney, Jorge Goulart, Neuza Maria, Adelaide Chiozzo, Jorge Fernandes, Dolores Duran, Lenita Bruno, Carminha Mascarenhas, Violeta Cavalcânti, Vera Lúcia, etc.

Em 1948, Dircinha Batista foi eleita "Rainha do Rádio" substituindo a irmã Linda Batista. No ano seguinte, teve início a eletrizante disputa pelo título de "Rainha o Rádio" entre as cantoras Emilinha Borba e Marlene. Esta última, foi eleita no ano seguinte com o apoio da Companhia Antártica Paulista, que lançava o Guaraná Caçula e fez dela sua garota propaganda, tendo o total de 529.982 votos. Marlene repetiu o feito no ano seguinte. Em 1952 e 1953, a Rainha foi Mary Gonçalves. Por volta de 1950 foi criado na emissora o Departamento de Música Brasileira, que obteve um de seus maiores êxitos no ano seguinte no programa "Cancioneiro Rayol" com a série "No mundo do baião", apresentada pelo radialista Paulo Roberto.

A chefia do Departamento de Música Brasileira foi entregue inicialmente ao compositor Humberto Teixeira. Outro programa musical ligado ao departamento de Música Brasileira e que fez muito sucesso foi "Lira de Xopotó", apresentado pelo radialista Paulo Roberto e que incentivava as bandas do interior que apresentavam músicas com arranjos do maestro Lírio Panicali. Igualmente Programa marcante dessa época foi "Música em surdina", criado por Paulo Tapajós e apresentado em estúdio no final da noite por Chiquinho, no acordeom, Garoto, ao violão e Fafá Lemos ao violino, interpretando um repertório eclético e que deu ensejo ao sugimento do Trio Surdina.

O violinista Garoto por sinal, foi um dos artistas que se destacou na Rádio Nacional nos anos 1950, quando passou por diferentes grupos nos seus dez anos de permanência na programação. Atuou na Orquestra Brasileira de Radamés Gnattali e pelo Bossa Clube ao lado de Luis Bittencourt, Luis Bonfá, Valzinho, Bide, Sebastião Gomes e Hanestaldo.
Ainda na década de 1950, destacaram-se os programas "Sua excelência a música" e "Quando os maestros se encontram". Esse último reunia cinco arranjadores da emissora, quase sempre os maestros Alexandre Gnattali, Lírio Panicali, Alberto Lazzoli, Léo Peracchi e Alceo Bocchino. Ainda no começo da década houve a tentativa frustada de criar o selo Nacional para gravação de discos que ficou apenas no primeiro, com Manezinho Araújo gravando o baião "Torei o pau", de Luiz Bandeira e a marcha "Um cheirinho só", de Manezinho Araújo e Armando Rosas.

Rádio-Teatro


Destacaram-se também nessa década inúmeros programas mistos como "Coisas do Arco da Velha", de Floriano Faissal; "Gente que brilha" e "Nada além de 2 minutos", de Paulo Roberto; "Clube das donas de casa", de Lourival Marques; "Grande espetáculo Brahma", de Mario Meira Guimarães; "Hoje tem espetáculo", de Paulo Gracindo; "Música e beleza", de Roberto Faissal; "Nova História do Rio pela música" e "Recolhendo o folclore", de Almirante; "Passatempo Gessy", de Jota Rui; "Rádiosemana", de Hélio do Soveral; "Roteiro 21", de Dinarte Armando; "Seu criador Superflit", de Lourival Marques e "Todos cantam sua terra", de Dias Gomes.

Entre os programas de Rádio-teatro merecem citação, "A vida que a gente leva" e "Boa tarde, madame", com Lucia Helena; "Consultório sentimental", com Helena Sangirardi; "Divertimentos Brankiol", com Ary Picaluga; "Edifício Balança mas não cai", com Paulo Gracindo; "Grande Teatro De Milus", com Dias Gomes; "Jararaca e Ratinho", com Joe Lester; "Marlene meu bem", com Mário Lago; "Os grandes amores da História", com Saint Clair Lopes; "Sabe da última?", com Rui Amaral e "Tancredo e Trancado", com Ghiaroni.

Em 1951, Paulo Tapajós criou o programa "A turma do sereno", de grande sucesso e no qual um repertório de serestas era apresentado por Abel Ferreira no clarinete, Irany Pinto no violino, João de Deus na flauta, Sandoval Dias no clarone, Waldemar de Melo no cavaquinho e Carlos Lentini e Rubem Bergman nos violões.
Segundo as palavras de Paulo Tapajós, o programa "Turma do sereno ocupava apenas um cavaquinho, uma flauta, um clarinete, um clarone e um violino, além dos cantores e outros solistas convidados. A "Turma do sereno" era o reencontro da música com a rua mal iluminada pelo lampião a gás, era o momento em que a gente imaginava que numa esquina de rua encontravam-se os velhos amigos para fazer choro, para cantar valsas e modinhas; era a oportunidade da gente tirar dos velhos baús alguns xotes, maxixes, polcas, já um tanto amarelados".

Animadores


Nos anos de 1953 e 1954, a cantora Emilinha Borba foi eleita "Rainha do Rádio". Nos dois anos seguinte, a consagrada foi Ângela Maria que chegou a obter o total de 1.464.996 votos. Em 1955, o radialista Almirante retornou à Rádio Nacional e criou os programas "A nova história do Rio pela música" e "Recolhendo o folclore". Por essa época, Renato Murce apresentou o programa "Alma do sertão", um dos maiores sucessos entre os programas sertanejos.
Em 1959, o cantor e compositor Zé Praxédi passou a apresentar diariamente o programa "Alvorada sertaneja". Um dos mais famosos programas da década de 1950 foi o "Programa César de Alencar", que comemorou os dez anos no ar com um show para 20 mil pessoas no Maracanãzinho.

Outros programas com animadores ficaram também célebres, como os de Paulo Gracindo e Manoel Barcelos. Outro destaque de sua história, foi o estúdio para rádio novelas e seriados diversos , como "Gerônimo, o herói do sertão" e "O Sombra", onde os truques de sonoplastia ficaram célebres especialmente os truques do sonotecnico Edmo do Valle.
Entre os programas de auditório apresentados na Rádio na década de 1950 podemos destacar: "Alegria, meus senhores" e "Este mundo é uma bola", apresentados por Fernando Lobo; "Alô, memória", "Dr. Infezulino" e "Enquanto o mundo gira", apresentados por Paulo Gracindo; "Ganha tempo Duchen", "O Cartaz da Semana" e "Parada dos Maiorais", com Hélio do Soveral; "Nas asas da canção", com Dinarte Armando; "Qualquer semelhança é mera coincidência", com Waldir Buentes; "Papel Carbono", Renato Murce e "Placar musical", com Nestor de Holanda Cavalcânti.

César Ladeira


Entre os programas musicais também merecem destaque, " A canção da lembrança", com Lourival Marques; "Audições Cauby Peixoto", apresentado por Mário Lago; "Audições Orlando Silva", com Ghiaroni; "Cancioneiro Royal", com Paulo Tapajós; "Cancioneiro romântico", com Rui Amaral; "Carrossel musical", com Ouranice Franco; "Clube do samba" e "Pelas estradas do mundo", com Fernando Lobo; "Fama e popularidade", com Oswaldo Elias; "Festivais G. E.", com Leo Peracchi; "Festivais de gaitas", com Cahuê Filho; "Horário dos cartazes", com Almeida Rego e "Preferências musicais", com Dinarte Armando.

Dentre seus muitos locutores famosos está César Ladeira, uma das vozes de excelência de toda a história do Rádio no Brasil, especialmente lembrado com o programa "A crônica da cidade". O declínio da Rádio, que se iniciara com a inauguração da televisão acentuou-se de forma definitiva com o Golpe militar de 1964 que afastou 67 profissionais e colocou sob investigação mais 81. Em 1972, os arquivos sonoros e partituras utilizadas em programas da Rádio foram doados ao Museu da Imagem e do Som, MIS. Durante as décadas de 1980 e 1990 o declínio da Rádio se acentuou devido à falta de investimentos e à concorrência cada vez maior da televisão e também das Rádios FM.

Perda de audiência


A emissora foi perdendo audiência e deixando de disputar os primeiros lugares na preferência do público. Manteve no entanto durante esse tempo diversos programas tradicionais da emissora apresentados por radialistas como Dayse Lucide, Gerdal dos Santos e outros que ainda arrastavam atrás de si a audiêencia de ouvintes fiéis e saudosos dos tempos de glória da emissora. A partir de junho de 2003, passou a estar sob a direção de Cristiano Menezes, que iniciou um plano de revitalização da PRE - 8. Em 2004, foi assinado um convênio entre a Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro e a Petrobras, que acertou a digitalização de todo o acervo de partituras da Rádio. Entre as obras estão raridades dos maestros Radamés Gnattali e Guerra-Peixe.

Nesse ano, a Rádio saiu do ar por 15 dias para passar por reformas que incluem a troca de transmissores e instalação de novos estúdios no antigo prédio da Praça Mauá, no Rio de Janeiro. Além disso, a Rádio Nacional passará a ser a primeira Rádio Digital AM. Tudo dentro de um plano de revitalização da Rádio. O famoso auditório da Rádio será reformado e terá sua capacidade reduzida de 500 para 150 lugares e voltará a abrigar shows.
Entre os novos programas estão previstos, o "Homenagem Nacional", no qual um sexteto permanente acompanhará a homenagem a um grande nome da história da música popular brasileira, com um astro atual interpretando sucessos do artista homenageado.

Programa-se ainda o "Memória Nacional", que deverá ser apresentando ao vivo, reunindo nomes como Cauby Peixoto, Marlene, Emilinha, Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas e Adelaide Chiozzo, que foram sucessos nos anos de ouro da Rádio Nacional. Ela ficou conhecida como "A escola do Rádio", o que por si só dá o tamanho de sua importância histórica.


O NASCIMENTO DA RÁDIO NACIONAL


Quando a Rádio Nacional foi fundada, no ano de 1936, o mundo inteiro ainda mal refeito da primeira Grande Guerra esperava pela eclosão de um novo conflito.

Naquele ano, a Itália invadiu a Etiópia e se aliou a Hitler, na Alemanha. Na verdade, as razões que determinaram a primeira guerra não haviam sido resolvidas.

A Alemanha e a Itália continuavam fora do processo neo-colonialista e, unidas, tramavam os passos da conquista de novos territórios. Era um tempo de autoritarismo. No Brasil, Getúlio Vargas governava com aparência de alguma legalidade. Fora eleito por uma Assembléia Constituinte, por ele mesmo nomeada, em 1934.

Entretanto, o golpe que viria a implantar o Estado Novo encontrava-se em gestação. O governo conseguira a pouco debelar a Intentona Comunista, liderada por Carlos Prestes.

Mas não tínhamos, exatamente, um céu de brigadeiro. O ar era pesado, por todo lado. Pouca sorte teria a Constituição de 34, amena e democrática.

Em seu lugar, viria a "polaca"....A Carta Magna que implantaria ditadura, debaixo da qual o Brasil viveu até 1945.

Foi neste cenário, mais ou menos assombrado, que a Rádio Nacional foi concebida. As peças do jogo do poder moviam-se rapidamente, aqui e lá no primeiro mundo. O nosso país, o quinto maior em extensão territorial do planeta, era uma presa fácil. Vulnerável, desprotegido, precisava de uma voz que o unisse.

Se é verdade que de boas intenções se faz o caminho do inferno, também é crível que propostas meramente políticas e racionais podem sair do trilho e acabar virando histórias de amor, talento e muito sucesso. Foi o caso da Nacional. Ela surgiu pela razão e acabou ganhando o coração.

Aconteceu assim, desde o primeiro dia em que foi ao ar: 12 de setembro de 1936, sábado. Do signo de Virgem e, por isso mesmo, simpática, leal e destinada a fazer amigos, a emissora cumprimentou o Brasil, às 21 horas, com a voz doce e melodiosa de Celso Guimarães... "Alô, alô Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro!" Depois, vieram os acordes de "Luar do Sertão" e uma benção do Cardeal da cidade.

No dia seguinte, o protocolo ficou de lado e Oduvaldo Cozzi, caprichou na transmissão de Flamengo e Fluminense, acrescida de uns flashes de Vasco contra o São Cristóvão. Estava feito o caso de amor. Paixão do Brasil, amizade de muitas gerações, voz que serviu para nos unir, informar e divertir. Foi ao pé da Rádio Nacional que o país acompanhou a Segunda Grande Guerra. Sofremos, sem perder a ternura, salvos pelo fabuloso talento de uma emissora que virou um time.

Regina Ghiaroni (Set/2005)

ALGUNS PROGRAMAS DA ÉPOCA


OS CALOUROS DO ARY - Muita gente boa apareceu no programa comandado por Ary Barroso, um dos maiores compositores da MPB. Ângela Maria, por exemplo, "cantou em outubro de 1949, no programa Calouros em Desfile. Ganhou nota cinco (máxima), interpretando Doce Mistério da Vida". O programa passou por várias emissoras, começando pela Rádio Cruzeiro do Sul, em 1937, passando depois pelas Rádios Tupi e Nacional. De tão antológico, Os Calouros do Ary foram assimilados pela Televisão, em uma longa temporada na TV Tupi, do Rio de Janeiro.

O TREM DA ALEGRIA - Programa de variedades transmitido ao vivo do Auditório da Rádio Nacional e comandado por Heber de Bôscoli, o maquinista; Yara Sales, a foguista e o guarda-freios, Lamartine Babo. A tripulação envergava macacões e bonés azuis de ferroviários e animava o Trem da Alegria com a apresentação de brincadeiras, números musicais, esquetes e distribuição de prêmios.

GERÔNIMO, O HERÓI DO SERTÃO - Seriado infanto-juvenil, escrito por Moisés Weltman, para a Rádio Nacional. Aninha, a namorada de Gerônimo e o Moleque Saci, vivido por Cauê Filho, protagonizaram por muitos anos as aventuras no sertão do Brasil, onde o bem sempre vencia o mal...

TANCREDO E TRANCADO - Programa de humor, com base nas situações do dia a dia, escrito por GHIARONI e estrelado por Ema D`Ávila, Brandão Filho e Apolo Correa. Realizado, ao vivo, no auditório da Rádio Nacional, era transmitido aos domingos. Dos "bordões" repetidos pelos personagens alguns ficaram célebres como: "Quem nasceu pra lagartixa, nunca chega a jacaré"; "Não é por me gabar não, mas a senhora é muito boooa.."; "Ele não toca pandeiro, que fará bongô...".

O REPÓRTER ESSO - "Um 28 de agosto de 1941, mesmo dia em que o Brasil juntou-se às Forças Aliadas para combater o Exército Alemão na Segunda Guerra Mundial, entrava no ar na Rádio Nacional o Repórter Esso. (....) A princípio narrado pelos locutores Celso Guimarães, Romeu Fernandes, Saint-Clair Lopes, Aurélio de Andrade e Jorge Curi, o Repórter Esso era transmitido às 8h, 12h55, 9h55 e 22h55". Em 1944, Heron Domingues assumiu a titularidade do programa, com desempenho marcante para sua carreira e para o próprio noticiário.

A CRÔNICA DA CIDADE - Página diária sobre episódios curiosos, relevantes ou merecedores de crítica sobre a cidade do Rio de Janeiro. Inicialmente chamada A CRÕNICA DA CIDADE MARAVILHOSA, foi assinada por Genolino Amado, na Rádio Mayrink Veiga, na voz de César Ladeira. Com a ida de Ladeira para a Rádio Nacional, a Crônica passou a ser escrita, na nova emissora, por Ghiaroni e, posteriormente por Pedro Anísio.

A FELICIDADE BATE À SUA PORTA - Apresentado por Heber de Bôscoli e, posteriormente, por Afrânio Rodrigues, "nesse programa, o esquema mais sofisticado de transmissão incluía um furgão devidamente equipado que percorria os bairros do Rio de Janeiro levando o apresentado à procura do ouvinte que tivera a sua carta sorteada no auditório. Localizado o felizardo (e se ele comprovasse o uso de produtos da União Fabril Exportadora), iniciava-se uma série de comemorações em que o atrativo máximo era a presença da cantora Emilinha Borba".

CURIOSIDADES


O prédio da Praça Mauá, nº 7, Edifício A Noite, com 22 andares, cujos últimos 2 pavimentos são ocupados pela Rádio Nacional possui uma "griffe" importante: foi projetado pelo arquiteto francês Joseph Gire, o mesmo que assinou a concepção do Copacabana Palace. O Edifício A Noite foi o primeiro arranha-céu do Rio de Janeiro, construído em cimento armado, cravado sobre rocha viva.

O gostoso na Rádio Nacional, além do clima de trabalho geralmente correndo em ritmo de amigo pra cá e amigo pra lá, era o espaço, o mais de um lugar disponível quando a conversa numa roda já tinha perdido o interesse. No bar se encontrava um pouco de refúgio, pois ali desembocavam todas as fofocas e sempre surgia uma irreverência, piada que em fração de segundos, chegava ao terraço do 22º andar. Como aquela do Paulo Gracindo durante a temporada que a Edith Piaf fez na Rádio. Estávamos lanchando quando apareceu uma velhinha na porta do bar. Rosto-pelanca, tornozelo-artrite, e o Paulo não perdeu a oportunidade: - A Garota Propaganda da Piaf. (Mário Lago)

Noel Rosa foi contra-regra do Programa Case, dirigido e apresentado por Ademar Case e que estreou em fevereiro de 1932, na Rádio Philips do Brasil. O contra-regra, em um programa de variedades era peça fundamental. Tinha a função de dosar os números musicais, evitando repetições do mesmo gênero, cuidando de entremear vozes masculinas com femininas, peças de orquestras, cenas humorísticas e solos. Nisso, Noel era ótimo. Sua grande dificuldade era chegar na hora, ou seja, quinze minutos antes do programa começar. Suas desculpas para o chefe Casé, ficaram na história do rádio:

- Você me desculpe, Casé, mas o "bonde furou o pneu"...

- Esqueci onde era a Rádio Philips, Casé...Pensei que fosse em Cascadura...

- Desculpe Casé, mas hoje não consegui chegar mais tarde....

O compositor Antonio Maria foi durante muito tempo produtor, redator e locutor da Rádio Tupi e da Rádio Mayrink Veiga. Além disso, compunha os jingles dos anunciantes. São de sua autoria dois especialmente marcantes, na Era do Rádio:

Eu sou a água de cheiro Regina

Eu sou o talco Regina

Eu sou o sabonete Regina

Nós três, o trio maravilhoso Regina

Quer no calor e no frio com o tempo bom ou chuvoso

Somos o trio Regina

Se a criança acordou

Dooooooorme dooooorme filhinha

Tudo calmo ficou

Mamãe tem

Aurisedina

Locutor - E a criança dormirá em paz com Aurisedina

A versão brasileira de Happy Birthday to you foi escrita por Lea Magalhães, vencedora de um concurso organizado na Rádio Nacional, em 1941.

Cauby Peixoto pertence a uma família talentosa na MPB e de projeção na história do Rádio Brasileiro. O pianista Nono (Romualdo Peixoto) era seu tio; dois irmãos, Araken e Moacyr são músicos; a irmã, Andiara, é cantora e, pra encerrar, o grande sambista Cyro Monteiro era primo de Cauby.

Cauby Peixoto foi o titular, durante muitos anos, de um musical na Rádio Nacional, escrito por Ghiaroni e patrocinado pelas Casas Garçon. O sucesso do cantor era tão grande, mobilizando um número assombroso de fãs delirantes, que passou a ser chamado de o "Cantor das Multidões". Quando de suas entradas e saídas da Rádio Nacional, em plena Praça Mauá, o público acabava rasgando suas roupas. A tarefa das fãs, entretanto, era facilitada pela estratégia do empresário Di Veras que providenciava, para o ídolo, ternos capazes de se desfazem em minutos ao simples puxão de mocinhas com baixo preparo físico. Resultado: muitas vezes Cauby precisou correr apenas de cueca e gravata pela Av.Rio Branco....

A História da Rádio Nacional


Surge a Rádio Nacional, PRE-8, no Rio de Janeiro. A rádio era adquirida, por apenas 50 contos de réis, da antiga Rádio Philips. A vinheta inaugural era uma bela melodia, tocada por vibrafone, seguida por uma voz tranquila de um locutor, que anunciava o prefixo e o nome da emissora. A Nacional se tornaria, durante muito tempo, um marco na história do rádio, com seus programas de auditório, suas comédias, seus musicais e suas radionovelas.

Entre o final dos anos 30 e a primeira metade dos anos 50 a Nacional seria uma das líderes de audiência do rádio brasileiro, em todo o país, sendo um desempenho até hoje insuperado por qualquer emissora de rádio, mesmo operando em rede. A Rádio Nacional exportava sua programação do então Distrito Federal (Rio de Janeiro), que era gravada e dias depois transmitida, em outras cidades brasileiras. Havia também programas regionais nas emissoras que recebiam programas da Nacional, e a emissora carioca acabava se tornando escola para muitas rádios brasileiras.

Nessa época as pessoas poderiam ir para os estúdios das rádios, verdadeiros teatros, para assistir ao vivo à programação realizada. Era época de grandes emoções, em que as pessoas podiam ver pessoalmente os comunicadores em ação. A Nacional funcionou também como uma mídia criadora de grandes ídolos, estabelecendo correspondência entre eles e os fãs e promovendo concursos, como o célebre "A Rainha do Rádio", que consagrou diversas cantoras, como Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira e Ângela Maria. Criou o primeiro hype destinado ao público feminino: o cantor Cauby Peixoto, que, apesar dos recursos artificiais de projeção na mídia, se tornou reconhecido, de fato, como um cantor de talentosa voz e de um notável carisma.

A emissora também foi a pioneira das rádionovelas, tendo iniciado o estilo com a novela "Em busca da felicidade", em 12 de julho de 1941.

A novela durou três anos e foi sucedida pela célebre "O direito de nascer", que mais tarde seria levada para a televisão. As rádionovelas lançaram mão de um tipo de profissional interessante, o sonoplasta. Este profissional, que hoje é também registrado pela lei como radialista, é o que faz todos os efeitos sonoros que ajudam na dramatização das histórias, simulando desde sons de sapatos de quem sobe uma escada até mesmo trovoadas, vendaval e chuvas, passando por passos de cavalos, etc.. Veja aqui o texto do jornalista Sérgio Cabral sobre a Rádio Nacional, publicada na revista Realidade de junho de 1972. Ele destaca o auge da emissora, a partir do sucesso do Programa César de Alencar, um dos que tiveram maior audiência nos anos 40 e 50. Uma observação: o texto aparece como foi publicado na revista, daí que Cauby aparece como Caubi, respeitando a grafia utilizada pelo autor.

A Rádio Nacional, lembra-se?

Uma estação de rádio, com um elenco maior do que o de qualquer emissora de televisão no Brasil. Você tem mais de 25 anos? Então ela faz parte de sua vida.

Sérgio Cabral
Extraído da revista Realidade, n. 75
São Paulo, Abril, junho de 1972

Praça Mauá, nº 7, Rio de Janeiro. Sábado, 14h 58. Dentro de dois minutos estará no ar o maior programa de todos os tempos do rádio brasileiro.

A Rádio Nacional transmite alguns anúncios, depois de ter apresentado o Consultório Sentimental, de Helena Sangirardi, e a reprise do Balança, Mas Não Cai, cuja audiência de 35 pontos no Ibope é incrível, tendo em vista que o programa foi apresentado ontem à noite.

O auditório de pouco mais de seiscentos lugares está superlotado. No mínimo, umas mil pessoas aguardam ansiosas o início do programa. Seu apresentador e principal responsável, César de Alencar, acerta com um dos produtores, Hélio do Soveral, os últimos detalhes para que tudo ocorra bem. A orquestra, com os integrantes todos sentados e o maestro Chiquinho, com seu enorme lenço no bolsinho de cima do paletó, preparado para comandar os primeiros acordes do prefixo do Programa César de Alencar. No ar, o último jingle comercial: é a valsa do Phimatosan, composta por Lourival Marques, que retirou a melodia de uma música européia do século passado (séc. XIX). O operador acende a luz vermelha indicando que, dentro de quinze segundos, estará no ar o Programa César de Alencar. Milhões de aparelhos de rádio, em todas as cidades brasileiras, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, estão ligadas, oferecendo uma audiência esmagadora. Aliás, o ponteiro desses aparelhos poucas vezes sai da Rádio Nacional.

Hoje também é dia do jogo Vasco e Flamengo, o clássico dos milhões, reunindo as duas maiores torcidas cariocas no estádio do Maracanã. Todas as estações de rádio do Rio de Janeiro, até algumas de outros Estados, estão no Maracanã, para transmitir a partida. Menos a Rádio Nacional, líder também de audiência na transmissão esportiva: sábado à tarde, pode haver jogo da Seleção Brasileira, que a Nacional não deixa de transmitir o Programa César de Alencar.

ESTA CANÇÃO

NASCEU PARA QUEM QUISER CANTAR

ATÉ CANSAR

É SÓ BATER

E DECORAR

PARA RECORDAR

VOU REPETIR O SEU REFRÃO

PREPARE A MÃO

MAIS UMA VEZ

ESTE PROGRAMA PERTENCE A VOCÊS

"Alô, alô, alô. Boa tarde, ouvintes; boa tarde, auditório. Agradeço a sua presença no auditório, sem a qual não faria nem a metade de nosso programa. A primeira parte do Programa César de Alencar é aquela que leva a chancela das meias Dixon - conforto e durabilidade. Fabricada em Juiz de Fora, porem à venda em todo o Brasil. Para abrir a parte musical, aí veio a mais recente contratação da Rádio Nacional: Jorge Veiga!"

O sambista surge com seu terno branco de linho S-120, sapatos de verniz, em meio a uma impressionante gritaria do auditório. E, como de hábito, antes de cantar a sua música, dirige-se aos aviadores: - Alô, alô, aviadores do Brasil. Aqui fala Jorge Veiga, da Rádio Nacional. Queiram dar os seus prefixos para guia das nossas aeronaves.

Uma fortaleza voadora da Força Aérea Brasileira, com catorze pessoas a bordo, depois de atravessar a selva amazônica, tentava pousar no aeroporto de Campo Grande (Mato Grosso*), que estava inteiramente às escuras. Eram 11h15 da noite, quando seu comandante conseguiu comunicar-se com a Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, à qual transmitiu o drama que estava vivendo. Um dos oficiais da Base, que recebeu a comunicação, telefonou imediatamente para a Rádio Nacional e, minutos depois, um locutor transmitia uma mensagem para Campo Grande, uma cidade distante 2000 quilômetros do Rio de Janeiro: "Atenção, Campo Grande; atenção, Campo Grande, em Mato Grosso. Uma fortaleza voadora da FAB precisa aterrar. O campo de pouso está às escuras. Atenção, Campo Grande, Mato Grosso".

Às 23h45, o avião pousava no aeroporto iluminado pelos faróis de dezenas de automóveis que ouviram o apelo da Rádio Nacional. César de Alencar. Calça azul-marinha, blusão branco, sorridente, comandando uma equipe de quase duzentas pessoas, entre cantores, músicos, locutores, contra-regras, operadores, radiatores. O seu programa acaba de comemorar o décimo aniversário numa festa no estádio do Maracanãzinho, com um público de mais de 20.000 espectadores. Cearense, começou a sua carreira sob a orientação de Renato Murce, seu colega de emissora e responsável pelos programas Papel Carbono e Piadas do Manduca. Além de César, Renato foi quem iniciou a carreira de radialistas como Ari Barroso, Ismênia dos Santos, Saint Clair Lopes, Luiz Gonzaga, Araci de Almeida, Barbosa Júnior, Dilermando Reis.

Do seu Papel Carbono, programa de calouros, saíram: José Vasconcelos, Os Cariocas, Ângela Maria, Rogéria (**), Carlos Augusto, Venílton Santos, Claudete Soares, Ivon Curi, Dóris Monteiro, Alaíde Costa, Elen de Lima, Baden Powell, Dolores Duran e Chico Anísio. "Ladrão, ladrãozinho, devolva a minha medalha e fique com o resto de jóias e com o dinheiro. Prometo que nada lhe farei".

O ladrão Waldemar de Oliveira, que havia roubado uma pulseira, um relógio cravejado de brilhantes, uma medalha e algum dinheiro, ouviu no Programa César de Alencar o apelo de sua vítima, a cantora Rogéria, e compareceu ao Distrito Policial para devolver o roubo. Ela fazia questão da medalha de ouro, porque a recebera de presente de uma pessoa que tivera o cuidado de colocar na jóia a seguinte frase: "Um dia, quem sabe?"

A Nacional continua disparada na liderança de audiência. É ouvida por todos, até pelos ladrões, apesar as previsões de um astrólogo, o professor William Ramayana (o atual homem dos júris de televisão, José Fernandes), para a revista Radiolândia, de que a emissora teria um ano terrível, pois, além de sofrer um incêndio, a Rádio Mayrink Veiga lhe passaria à frente. No entanto, mesmo se levando em conta os aparelhos desligados, o Ibope acusa: 42.5 para a Nacional; 10.5 para a Tupi; 8 para a Tamoio e 7 para a Mayrink Veiga.

- E agora, todos de pé: aí vem Caubi Peixoto!

FOTÓGRAFOS CERCAM CAUBI MAS NÃO FOTOGRAFAM

O auditório entra em delírio. Os ouvintes quase não percebem que Caubi está cantando uma versão de Blue Gardenia porque o barulho da platéia é maior do que o da sua voz. Ele agradece jogando beijos, enquanto algumas fãs sobem ao palco e lhe colocam faixas.

Em março de 1949, Babi de Oliveira, produtora do programa A Hora do Comerciário, da Rádio Mauá, dava uma entrevista à Revista do Rádio sobre os novos valores que surgiram em seu programa e chamava atenção particularmente para um cantor: "Temos um rapaz, ótimo cantor de sambas que assegura seu êxito em qualquer dos nossos estúdios". O rapaz era Caubi Peixoto, que só cinco anos depois "asseguraria seu êxito", graças a um espetacular lançamento através da Rádio Nacional, planejado pelo compositor Di Veras, seu primeiro empresário. Algumas apresentações no

Programa César de Alencar foram suficientes para que se transformasse num dos maiores ídolos populares. Os cronistas de rádio o escolheram como a Revelação de 1954 e neste ano já era uma das atrações mais caras do rádio brasileiro: CR$ 50.000,00 por apresentação. As cartas confirmam a sua popularidade. Em junho de 1954, recebera 2245 correspondências, perdendo apenas para Emilinha Borba (2995), mas vencendo Marlene (2223). Em agosto, porém, alcançou o primeiro lugar com 3052 cartas, contra 2544 para Emilinha Borba e 2325 para Marlene.

É o resultado do primeiro trabalho de um empresário nos termos americanos. Di Veras havia lido nas revistas algumas coisas sobre os métodos de lançamento de Frank Sinatra, Dick Haynes e outros cantores dos Estados Unidos e resolveu aplicá-los no Brasil. Pagou a algumas fãs para desmaiarem no auditório e contratou uma equipe de fotógrafos profissionais para acompanhar Caubi Peixoto em todos os lugares onde cantasse.

Não precisava fotografar, bastava espoucar o flash. Ficou tão animado com a experiência, que decidiu repeti-la no próprio país onde aprendera o método, os Estados Unidos. E para lá foi com Caubi. De lá enviava fotografias do cantor ao lado de artistas famosos de cinema e a primeira página de jornais com o nome de Caubi na manchete. aliás, já não era mais Caubi e sim Ron Cobby, pois Peixoto era difícil para os americanos pronunciarem. Só que os jornais não eram os verdadeiros, mas aqueles destinados principalmente a turistas que pagam uma pequena importância e lhes dão a primeira página de um jornal com seus nomes na manchete. Além disso, a Revista do Rádio e Radiolândia eram informadas de que Caubi fazia grande sucesso nos Estados Unidos, onde contratos milionários lhe eram oferecidos.

A CRIANÇA CHOROU

DORME, DORME, MENINA,

TUDO CALMO FICOU

MAMÃE TEM AURISSEDINA

O locutor Afrânio Rodrigues, o "Touca de Aço", lê um comercial e o microfone é novamente entregue a César de Alencar, que anuncia Gregório Barrias, cujos boleros são vendidos aos milhões no Brasil. É mais uma atração internacional apresentada no programa. Aliás, não há cantor estrangeiro que venha ao Brasil e deixe de comparecer ao programa. Só houve um caso: Jacqueline François, que concordou somente em cantar no estúdio. Apesar disso, numa sexta-feira à noite, o auditório foi aberto para ela, que receberia inclusive uma homenagem. A cantora Marlene lhe entregaria orquídeas depois de fazer a seguinte saudação: Jacqueline: ofereço-lhe estas flores em nome da direção da Rádio Nacional e de seus artistas. São flores que traduzem a nossa imensa alegria e a honra de vê-la cantando aqui - você que é a gloriosa expressão da música francesa. Vive La Frange". Não houve nada disso, Jacqueline cantou mesmo no estúdio e o público presente a via apenas pelo vidro (ela de costas para a platéia).

A Rádio Nacional e o patrocinador dos programas de Jacqueline, o incorporador de imóveis Santos Vahlis, cancelaram imediatamente o seu contrato, por causa da atitude da cantora. A questão repercutiu nos jornais e alguns colunistas deram razão a Jacqueline, pois não tinha nada que cantar para o que chamavam de "macacas de auditório". A Revista do Rádio defendeu a Nacional, o mesmo acontecendo com a Radiolândia, que, em editorial, afirmou que o público era seleto e enobrecia qualquer ambiente, "mesmo porque o público que comparece às sextas-feiras na Nacional é variado e distinto". - E agora, a cantora que canta e dança diferente: Marlene!

Segundo um antigo funcionário da Nacional, a sociedade brasileira está dividida em emilinistas e marlenistas. É impressionante a popularidade dessas cantoras. Radiolândia foi ver quem é a mais popular no Congresso e o resultado foi o seguinte: marlenistas, os deputados Manuel Barbuda, Benjamim Farah e Novais Filho, além do senador Juraci Magalhães; emilinista, apenas o senador socialista Domingos Velasco; votaram nas duas os deputados Frota Aguiar, Carlos Lacerda, Dalton Coelho, Nestor Duarte, Afonso Arinos e os senadores Apolônio Sales e Kerginaldo Cavalcanti.

Marlene - Quatro horas da manhã

Sai de casa o Zé Marmita

Pendurado na porta do trem

Zé Marmita vai e vem

Breque do auditório - Marlene é a maior.

Embora cantando com grande sucesso no Programa César de Alencar, o forte de Marlene é Programa Manoel Barcelos, às quintas-feiras. Ficou mais ou menos estabelecido que um seria para Emilinha e outro para Marlene, uma cantora que começou a enfrentar a liderança de sua rival ganhando o título de Rainha do Rádio, em 1949, com 529982 votos, custando CR$ 1, 00 cada um. É verdade que contou com o apoio da Companhia Antarctica Paulista(***), que lançava na época o guaraná Caçula.

A Rainha do Rádio seguinte foi Dalva de Oliveira. Até 1950, era uma cantora razoavelmente conhecida, sem muita penetração popular. Mas o espetacular rompimento com seu marido, Herivelto Martins, fez com que ela não cantasse mais no Trio de Ouro, do qual Herivelto era o líder, mas sozinha. E mais: as suas músicas, com letras alusivas à separação, comovem os fãs e suas apresentações no Programa César de Alencar passam a ser tão barulhentas quanto as de Emilinha e Marlene. Enquanto Herivelto Martins é vaiado no Teatro João Caetano, as músicas de Dalva de Oliveira estouram nas paradas de sucesso, num recorde dificilmente igualado na história de nossa música popular:

"Primeiro lugar, Tudo Acabado;

segundo lugar, Errei, Sim;

terceiro lugar, Que Será"

Todas as três gravadas por Dalva de Oliveira, que acabou sendo eleita Rainha do Rádio com 311107 votos. Em 1951 não houve Rainha, mas em 1952 venceu Mary Gonçalves, uma cantora paulista contratada pela Nacional e que aparecia muito nos filmes da Atlântida; em 1953 com mais de 1 milhão de votos, a Rainha foi Emilinha Borba (o resultado financeiro do concurso era aplicado na construção do Hospital dos Radialistas, sob a responsabilidade da Associação Brasileira de Rádio). 1954 foi o ano de Ângela Maria: Rainha do Rádio, foi eleita a melhor cantora do ano pela crítica e ganhou o título de Rainha dos Músicos do Brasil; em 1955, a Rainha foi Vera Lúcia e, em 1956, Dóris Monteiro.

DORES? GUARAÍNA CORTA A DOR

E NÃO ATACA O CORAÇÃO

O Programa César de Alencar prossegue. Apesar do grande sucesso, seu apresentador ainda não está satisfeito, pois seu velho sonho de ser diretor da Rádio Nacional ainda não foi concretizado. Numa mudança de governo, quem sabe? Agora, porém, ele está concentrado no programa. E anuncia uma bela cantora que a Nacional foi buscar em Lisboa: Ester de Abreu.

Ester está com muito prestígio. O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, general Dulcídio do Espírito Santo Cardoso, apaixonou-se por ela e ficaram noivos. O pessoal todo da Nacional compareceu à festa do noivado com muitos presentes. O produtor Paulo Roberto (programas:

Gente que Brilha, Lira de Xopotó, Honra ao Mérito, Obrigado, Doutor, Nada Além de Dois Minutos) fez um discurso em nome dos colegas da emissora. O noivado durou dois anos, depois dos quais o general casou com outra.

César de Alencar quer diversificar o programa, introduzindo quadros humorísticos. E chama Brandão Filho, Apolo Correia e Alcino Diniz para um sketch escrito por Ghiaroni. Afinal, por que não aproveitar o setor de radioteatro da Nacional? Agora mesmo, esse setor perdeu um de seus principais astros, o radiator Rodolfo Mayer, mas o diretor do Departamento Artístico, Floriano Faissal, não ficou muito preocupado, tal a quantidade de astros e estrelas que permanecem na Rádio. Rodolfo Mayer foi para a Rádio Tupi em condições consideradas astronômicas:

CR$ 200.000,00 de luvas e salário mensal de CR$ 60.000,00 por um período de dois anos. O Boletim da Nacional, distribuído à imprensa, dá a informação da saída de Rodolfo com uma certa dose de auto-suficiência: "Rodolfo Mayer sai da Nacional sem rancores nem inimizades. Dá-se apenas que recebeu uma proposta irrecusável: a direção da Nacional concordou em que ele fosse buscar aquela herança para voltar daqui a dois anos".

Rodolfo era importante, mas como poderia sentir a sua saída uma emissora que tem sob contrato radiatores como Álvaro Aguiar, Celso Guimarães, Domício Costa, Domingos Martins, Floriano Faissal, Hemilson Fróes, Mário Lago, Paulo Gracindo e Roberto Faissal? Aliás, apesar dos grandes programas musicais e de auditório, é nas novelas que a audiência alcança índices impressionantes, como a das 8 horas da noite, que já deu 92 pontos no Ibope.

- Homens de rádio da Europa e dos Estados Unidos que nos visitam saem daqui dizendo que aprenderam conosco. (Floriano Faissal)

A SONOPLASTIA SOFISTICADA

FAZ O OUVINTE VER AS NOVELAS

Além da equipe, o Departamento de Radioteatro da Nacional possui um estúdio cheio de objetos os mais variados, destinados a produzir sons durante a transmissão das novelas: portas de rua, de automóvel, de armário e de aço; janelas de todos os tipos; portões de ferro, apitos de navio, de trem, de lancha, de guarda de trânsito e de contramestre de veleiro; tábuas especiais para tirar sons de passos leves, pesados, secos e retumbantes; escadas rangentes, facas, espadas, bengalas, rodas de ferro, rodas de madeira que imitam a cantilena dos carros de boi ou o som de um mastro de navio que se quebra; louças, cristais, fichas de jogo, panos de seda, cascas de coco seco que reproduzem ruídos de patas de cabalo; pios para imitar sapos e grilos; ramos secos de coqueiro para dar idéia de folhagem; folhas de papel celofane dentro de um saco (esfregado com a mão dá a impressão de um incêndio enorme); pregos, serrotes, martelos, campainhas dos mais variados tipos, telefones, além de um conjunto de madeira do qual se tira o som de soldados em marcha. Há também o guarda-chuva que se abre e fecha dando o som do farfalhar de um grande pássaro; comprimidos efervescentes dentro da água que dão a idéia de milhares de formigas devorando uma pessoa. O som do tiro de revólver sai de uma martelada numa espoleta. Há de se considerar o talento dos radiatores e radiatrizes: no 22º capítulo da novela Num Cantinho do Mundo, de Eurico Silva, o diretor Floriano Faissal bateu palmas para a interpretação da radiatriz Ísis de Oliveira (****). O operador acompanhou os aplausos e o público ouviu aquelas palmas sem entender a razão.

- A cena era perigosíssima. Ísis teria que exagerar, mas não tanto que caísse no ridículo. E ela foi na medida certa. (Floriano Faissal)

O radioteatro começou na Rádio Nacional três meses após a sua inauguração, com a transmissão de diálogos humorísticos ou não, intercalando números musicais. Isso foi em dezembro de 1936. Mas só a agosto de 1937 é que estreou o Teatro em Casa, com a irradiação de peças completas.

A novela em capítulos teve início dia 5 de junho de 1941, às 10 e meia da manhã: - Senhoras e senhoritas... o famoso Creme Dental Colgate apresenta... o primeiro capítulo da empolgante novela de Leandro Blanco, em adaptação de Gilberto Martins: Em Busca da Felicidade.

Os patrocinadores, para conquistarem ouvintes, prometeram fotografias dos artistas e um álbum com o resumo do enredo para quem enviasse o pedido acompanhado de um rótulo Colgate. No primeiro mês chegaram 48000 pedidos e os patrocinadores tiveram que parar a promoção. Em Busca da Felicidade durou dois anos e foi substituída por O Romance e Glória Marivel, do mesmo autor. Depois vieram Predestinados, Fatalidade, Maldição, Renúncia, foram aparecendo os autores brasileiros e a Nacional passou a transmitir catorze novelas por dia.

ELA É LINDA

AAAAH

MAS É NOIVA

OOOOH

USA PONDS

AAAAN

César de Alencar está feliz. O maestro Radamés Gnatalli fez especialmente para o seu programa um arranjo sobre músicas de Ari Barroso.

O próprio Radamés assume a orquestra como regente e, pela primeira vez, a platéia faz silêncio.

Para o locutor Aurélio de Andrade, um dos fundadores da emissora, a parte musical talvez seja o principal fator de sucesso da Rádio. - Certas músicas gravadas com um pequeno acompanhamento são transmitidas na Rádio com uma orquestra imensa e arranjos feitos pelos nossos melhores maestros.

Os maestros: Radamés Gnatalli, Romeu Fossati, Severino Filho, Zimbres, Lyrio Panicalli, Moacyr Santos, Eduardo Patané, Alberto Lazzoli, Gustavo de Carvalho, Francisco Duarte (Chiquinho), Romeu Ghipsman, Leo Perachi, Alexandre Gnatalli, Ercole Vareto e Francisco Sergi.

A orquestra: 35 violinos, nove violas, seis violoncelos, nove contrabaixos, sete flautas, quatro oboés, um corne inglês, três clarinetes, dois clarones, dezessete saxofones, onze pistões, nove trombones, cinco bateristas, cinco guitarras, quatro pianos, uma harpa, quatro trompas, uma tuba, um bombardino, um acordeão e onze ritmistas. Há também dois conjuntos regionais com um total de onze instrumentistas e solistas individuais: Chiquinho (acordeão), Carolina Cardoso de Menezes (piano), Abel Ferreira (clarinete e saxofone), Luperce Miranda (bandolim), Jacob Bittencourt (bandolim) (*****), Luiz Americano (clarinete), Dilermando Reis (violão), Carlos Matos (violão), Jorge Lenny (órgão) e Amirton Valim (piano).

Paulo Tapajós, diretor musical da Rádio, dispõe de todos esses recursos para os grandes programas musicais, como Um Milhão de Melodias, Festivais GE, Cancioneiro Royal, além dos especiais com os cantores da casa, como Orlando Silva, Ivon Curi, Caubi Peixoto, Silvio Caldas e outros.

É verdade que, de vez em quando, a orquestra cresce sem muita necessidade, como se verificou quando o sr. Café Filho assumiu a presidência da República e nomeou o sr. Marcial Dias Pequeno para superintendente das Empresas Incorporadas da União (às quais pertence a Rádio Nacional) e o jornalista Odylo Costa, filho, para a direção da emissora. Circularam boatos de que a nova direção faria cortes drásticos na Rádio, mas o sr. Marcial Dias Pequeno desmentiu. Ou melhor: confirmou apenas duas demissões, a do famoso tenente Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas, e do sr. Roberto Alves, também integrante da guarda, ambos envolvidos no atentado ao sr. Carlos Lacerda, que resultou no assassinato do major Rubem Vaz. Eram contratados como clarinetistas da orquestra: Gregório ganhando CR$ 30.000,00 por mês e Roberto Alves, CR$ 15.000,00, embora - segundo o sr. Marcial Dias Pequeno - não soubessem "nem assobiar".

NA SUA CASA TEM BARATA?

NÃO VOU LÁ

NA SUA CASA TEM MOSQUITO?

NÃO VOU LÁ

NA SUA CASA TEM PULGA?

NÃO VOU LÁ

PEÇO LICENÇA PARA MANDAR

DETEFON EM MEU LUGAR

A Rádio Nacional vive seus grandes dias. César de Alencar sonha em dirigi-la para ter o prestígio de um Gilberto Andrade ou Vítor Costa. O primeiro, seu diretor-geral de 1940-1946, além de ter dinamizado a programação, aumentou a potência do transmissor de ondas médias, criou as ondas curtas, instalou novos estúdios e contratou alguns dos principais astros da emissora. O nome de Vítor Costa é mais ligado à parte comercial.

A prova do êxito do seu trabalho é a fortuna que fez com as comissões das contas de publicidade que levou para a Nacional. Deixou-a em 1954 e comprou a Rádio Mundial do Rio de Janeiro, a Nacional de São Paulo e outras do interior do Brasil, fundando a Organização Vítor Costa. Deu o seu Cadillac "rabo de peixe" e mais CR$ 900.000,00 em troca de um Rolls-Royce que pertenceu a Getúlio Vargas, cujo preço é calculado em CR$ 2.000.000,00.

A VOTAÇÃO PARA O CRAQUE ADEMIR

SÓ FOI MENOR QUE A DE JÂNIO

Milhares de cartas chegaram diariamente dirigidas a programas e a artistas. Uma seção com seis funcionários cuida especialmente da correspondência e, muitas vezes, tem que recorrer a funcionários de outros setores, como ocorreu quando o programa No Mundo da Bola instituiu um concurso para que o ouvinte dissesse qual o jogador de futebol de sua preferência, enviando o nome do craque num envelope de Melhoral. O vencedor foi Ademir, do Vasco da Gama e da Seleção Brasileira, com 5.304.935 votos. O total de envelopes de Melhoral chegados à Nacional foi de 19.105.856. Em matéria de eleição no Brasil, o jogador Ademir só perdeu, em quantidade de votos, para o sr. Jânio Quadros.

O Instituto de Criminologia do Distrito Federal (+), dirigido pelo famoso criminalista Roberto Lyra, acaba de diagnosticar uma nova doença, à qual deu o nome de "doença do rádio". Justificativa: "Ao ouvirem permanentemente o seu artista preferido, as mocinhas criam em suas mentes o romance com que sonham. E como não conseguem, na maioria das vezes, atrair o objeto de sua paixão, passam à fraude, ao artifício, às mistificações, donde as denúncias caluniosas tão frequentes ultimamente no Rio de Janeiro".

Talvez o Instituto tenha razão. Afinal, vários cantores e radiatores têm sido denunciados na imprensa como pais de filhos de fãs e alguns chegam até a ser agredidos, como Ivon Curi, que teve o seu carro quebrado por uma admiradora em apaixonada fúria.

A direção da Rádio Nacional, porém, não concordou com o diagnóstico do Instituto de Criminologia e veio a público lembrando os programas culturais, entre os quais o Grande Teatro De Millus, com a transmissão de peças de Shakespeare, Gogol, Eugene O'Neill e Garcia Lorca, radiofonizadas por Dias Gomes. E o Seu Criado, Obrigado, escrito por Lourival Marques e apresentado por César Ladeira e Nilza Magrassi?

Mais de 200.000 cartas por ano com perguntas sobre os assuntos para serem respondidas às segundas, quartas e sextas à tarde, logo depois do Repórter Esso, da Crônica da Cidade e da novela. Não pode ser esquecido também o papel da Rádio Nacional durante a guerra, quando havia um programa especialmente dirigido aos nossos soldados que lutavam na Itália. Seus familiares enviavam as mensagens que desejassem, sem qualquer problema. Ou melhor: havia um, a choradeira de todo mundo, inclusive dos produtores, locutores e técnicos, como no dia em que uma menina disse ao pai pelo microfone que fazia quinze anos naquele dia e que gostaria muito que ele estivesse presente à festinha.

Uma emissora com nove diretores, 240 funcionários administrativos, dez maestros, 33 locutores, 124 músicos, 55 radiatores, 39 radiatrizes, 52 cantores, 44 cantoras, dezoito produtores, um fotógrafo, treze informantes, cinco repórteres, 24 redatores e quatro secretários de redação não poderia ser apontada como causadora de doenças sociais. Além disso, quando há programas de baixo nível, eles são imediatamente retirados do ar. O Acredite Se Quiser (escrito pelo futuro membro da Academia Brasileira de Letras, Raimundo Magalhães Júnior), cuja idéia era copiada do Incrível, Fantástico, Extraordinário, de Almirante (++), contava casos de aparição de fantasmas, o que, para a direção da rádio, era "prejudicial aos ouvintes menos esclarecidos ou de mais acentuada instabilidade psíquica, tornando-se, portanto, desaconselhável do ponto de vista da higiene mental".

PASTINHAS VALDA,

PASTINHAS VALDA,

EMILINHA É A MAIOR

PASTINHAS VALDA,

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EMILINHA É A MAIOR

César de Alencar - Está no ar o big show Parada dos Maiorais. Veremos quais as músicas e os intérpretes que estão galgando os degraus da fama. O programa está chegando ao fim, César vai apresentando as músicas colocadas na parada de sucesso e se prepara para anunciar Emilinha Borba, com a qual encerrará o programa de quatro horas.

Num outro estúdio da Rádio, Jorge Curi e Antônio Cordeiro já sentados à frente do microfone, prontos parai iniciarem mais um No Mundo da Bola, através do qual os ouvintes saberão o resultado do jogo entre Vasco da Gama e Flamengo. No auditório, César, Emilinha e o público encerram a festa num barulho só.

CÉSAR HOJE (1972): PROGRAMAS DE TV,

AOS SÁBADOS À TARDE

Maio de 1964. Não existe mais o programa César de Alencar. O seu apresentador fez tudo para ser diretor da Rádio Nacional e não conseguiu.

Gravou até os jingles de Miguel Gustavo para a campanha do sr. João Goulart para vice-presidência da República ("Na hora de votar / Dona de casa vai jangar / É Jango, é Jango / É João Goulart"), compareceu aos seus comícios, mas, ao assumir a presidência (+++), seu candidato não lhe reconheceu os esforços. Veio a Revolução de 1964 e César (junto com os locutores Hamilton Frazão e Celso Teixeira) denunciou vários colegas como inimigos do novo regime e 36 foram demitidos. Mas não foi nomeado diretor e perdeu o programa.

Abril de 1972. Paulo Tapajós, ainda diretor musical da Nacional, entra no banheiro da emissora e vê centenas de embrulhos amontoados uns sobre os outros. Naquele dia, consultara o Boletim do Ibope e verificara que está difícil para a Rádio subir do quarto lugar em que está colocada há muitos anos: longe, muito longe da Globo, primeira colocada, e não faz qualquer ameaça à Tupi, segundo lugar, ou à Mundial, terceiro. Fala-se até em fechamento da Nacional, enquanto os funcionários mais antigos tratam da aposentadoria.

Nem mesmo as obras e o serviço de limpeza dão ânimo ao pessoal. Desapareceram as teias de aranha, as rachaduras na parede, mas os ouvintes se esqueceram dos programas da Nacional.

Tapajós, há mais de trinta anos trabalhando na mesma emissora, mete o dedo num dos embrulhos e rasga o papel. Olha e vê que dentro deles há discos de acetato. Sendo diretor musical da Rádio, quer saber que discos são aqueles. E viu: gravações dos programas Gente Que Brilha, Tancredo e Trancado, A Hora do Pato, Festivais GE, Programa César de Alencar e outros, jogados num canto do banheiro, respingados de urina.

NOTAS DO EDITOR DO SITE:
(* ) Desde 1978, portanto seis anos após a publicação deste texto, o estado correspondente é Mato Grosso do Sul, divisão do antigo Estado do Mato Grosso.
(**) Não confundir com o famoso travesti que atua na TV, cinema e teatro até hoje.
(***) Atual AMBEV.
(****) Não confundir com outra atriz, de uma geração mais recente e que vem a ser a irmã da modelo Luma de Oliveira.
(*****) Vem a ser conhecido como o célebre Jacob do Bandolim.
(+) Município do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, é hoje capital do Estado homônimo.
(++) Compositor e radialista, Almirante integrou, no final dos anos 20, o Bando dos Tangarás, no qual integravam também Noel Rosa e João de Barro (o "Braguinha").
(+++) João Goulart se tornou presidente depois da renúncia de Jânio Quadros.